
No momento, me sinto como uma máquina de datilografia, completamente velha e enferrujada. Para usá-la, seria necessário limpar suas teclas, manusear com cuidado e torcer para que funcione. Se um parágrafo for concluído, é sinal de que dá para continuar mais um pouco e, quem sabe, chegar ao final do raciocínio.
Enquanto me ausentei da escrita, estive andando por muitas estradas, algumas não tão receptivas.
Diversas portas foram fechadas, na maioria delas fui eu mesmo que fechei. O processo pelo qual estou passando está doendo bastante, mas sendo necessário para a cura.
Será que essa cura existe? Segundo a minha psicanalista, não há de se falar em cura, mas aprender a manusear toda a dor reprimida.
Dor… Palavra pequena, mas com enorme impacto na minha vida.
Por muito tempo fugi desse sentimento, mascarando as frustrações com sorrisos bobos, tendo a necessidade de entreter os outros e esquecer todas as rejeições. Só que, no fim, eu também me rejeitei ao não ouvir e sentir tudo o que estava no caminho.
Foi lendo Clarice, escutando Rita Lee, tendo conversas profundas com amigos e escrevendo no meu diário que muita coisa passou a fazer sentido. Fugir da dor não foi legal, mas tornou-se a escolha certeira naquele momento. Não dispunha de muitos recursos emocionais, logo, fingir foi necessário.
Contudo, sem saber, busquei na escrita e nos livros a tal da cura. Obviamente, não funcionou, mas me fez adquirir conhecimento de situações não vividas. Hoje, não quero mais só imaginar como seria, eu desejo viver!
E eu estou vivendo.
Comigo, por mim e com os meus.
De uma coisa estou certo: custe o que custar, eu vou fazer de tudo para ser o protagonista da minha própria história.
Vou reescrever os meus planos, voltar para mim e construir uma nova versão. O passado não tenho como mudar, mas posso transformar o futuro com pequenos passos e atitudes.
A caneta e o caderno estão nas minhas mãos para mudar a história. É hora de rescrever alguns pontos.